algumas doenças da mente, umas, antes vistas de forma mais leniente, e outras, nem mesmo eram consideradas doenças.
Manaus, AM, 06 de Junho de 2013
LOYANA CAMELO
297 doenças estão catalogadas no DSM-IV, antecessor do DSM-V (Arte: Gusmão)
Um burburinho surgiu recentemente envolvendo a psiquiatra, com o lançamento da quinta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V), mais conhecido como a “bíblia” desta área médica. O cerne da questão está na classificação mais rígida para algumas doenças da mente, umas, antes vistas de forma mais leniente, e outras, nem mesmo eram consideradas doenças. Para explicar do que se trata e desmistificar o enrijecimento do manual, especialistas da área já expressaram sua opinião.
Dentre os muitos males da mente citados no DSM-V, um especial interessa a boa parte da população mundial: a depressão. Para o novo manual, agora, caso uma pessoa sofra pela perda de um ente querido (o famoso luto) por mais de duas semanas, já se pode diagnosticar a depressão. E nesse caso, com o diagnóstico em mãos, é autorizada a medicação do paciente.
Segundo o psiquiatra Domingos Ferreira, atuante há 17 anos na área, a vantagem disto é a rapidez com que se pode identificar um quadro depressivo. Mas desvantagens existirão sempre, como em tudo. “Tem gente que vai dizer que nós vamos medicalizar um momento normal da pessoa. Por outro lado, há pessoas que podem se beneficiar com isso”, explica.
Sem crise
Esse “afrouxamento de diagnóstico” para a depressão, de acordo com Ferreira, permite agir com mais eficiência, no entanto, malgrado a imponência que o DSM tem no Brasil (tendo em vista ser fruto da Associação Americana de Psiquiatria), não obriga nenhum médico a segui-lo à risca. Então, ninguém precisa se afobar achando que é anormal por sofrer por mais de duas semanas em casos de luto.
“O novo DSM não é bom nem ruim. É um guia, vai depender de como o profissional se orienta por ele. Esse zumzumzum que está tendo é natural, porque é muito improvável que alguém consiga fazer uma classificação que agrade a todo mundo”, completa.De acordo com o psiquiatra Cléber Naief, a DSM-V não chega a mudar critérios de forma radical - faz apenas uma releitura, muda alguns critérios, mas a essência de identificação das doenças da mente não muda.
“Para nós, psiquiatras, é melhor nos orientarmos pelo CID (Código Internacional de Doenças). O público não precisa se aprofundar nessa crítica sobre complexidade dos manuais”, ressalta o médico, fazendo alerta para os impressionados que gostam de se adiantar fazendo autodiagnósticos. “Com o novo DSM, quem estava deprimido não vai deixar de estar e nem vice-versa. São mudanças sutis”.
Autismo
Porém, tanto Cléber Naief quanto Domingos Ferreira apontam existir diferenças significativas no diagnóstico do autismo. Os vários níveis da disfunção foram reduzidos, no entanto, com os novos critérios do DSM-V, fica mais fácil de entender o autismo em si, ao invés de ser visto como grupo de doenças distintas. Outra novidade é a classificação da compulsão alimentar como doença. Em todo caso, uma orientação com um psiquiatra de confiança poderá afastar todos os fantasmas criados pela divulgação exacerbada feita a respeito do DSM-V.
Blog
Domingos Ferreira - psiquiatra
“Sempre vão existir questionamentos para se classificar o comportamento humano. Essa quinta edição do manual da Associação Americana de Psiquiatria é uma orientação, um guia de critérios para tentar enquadrar transtornos a partir de critérios específicos. Na verdade isso é uma tentativa antiga. Esse zumzumzum que está tendo é natural, porque é muito improvável que alguém consiga fazer uma classificação que agrade todo mundo. Não se trata de algo nem bom nem ruim, vai depender como os profissionais vão usá-la. Vale frisar que o DSM-5 não obriga ninguém a fazer um diagnóstico, medicar ou deixar de medicar. O psiquiatra pode se orientar por ele. Mas a gente não pode esquecer que isso é algo da Associação Americana de Psiquiatra, então é um manual que atende muito mais àquela realidade e que não é desprovido de suas correntes históricas e culturais daquela terra. Os profissionais devem aplicá-lo aqui da maneira que couber. As doenças são manifestações de doenças humanas, então envolvem muita subjetividade, muito particularidade. O importante é dizer que isso não é bom nem ruim, é apenas um guia”.
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